quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Escrever é traduzir.


Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos a transmitir, mas uma sombra ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem, ser intraduzível, por exemplo a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior a palavra que vai ficar na memória como o rosto de um sonho que o tempo não apagará por completo.
~ José Saramago

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