domingo, 12 de março de 2017

Calcinha de algodão

Me deixa ficar aqui no teu peito. Nesse vão entre você e todo o resto do mundo. É que vezes queria que fosse domingo todos os dias. E que você me trouxesse café da manhã na cama e que eu não precisasse colocar maquiagem e nem lingerie. Às vezes da muito trabalho ser sexy assim como dá muito trabalho ser jovem. Ultimamente tenho sentido uma preguiça danada das coisas. Não é que eu tenha desistido delas é só que não consigo mais fazer nada que me pressione. Então tenho rompido com um monte de coisas. Desde metas e objetivos audazes até calça jeans apertada e conversas profundas. Acho que deve ser a coisa mais difícil do mundo ter que ser sexy em calças de lycra, salto alto e ainda citar Focault. O mundo se tornou muito hostil para as mulheres. Algo da nossa ingenuidade se perdeu em meio a esse empoderamento feminino. E agora andamos armadas até os dentes com mestrados, e lingeries fatais. Por isso tenho tentado voltar a doçura das minhas origens, sabe? Se eu ainda tivesse avó juro que iria passar uns tempos na casa dela pra aprender a fazer croché, bolo de fubá e principalmente para aprender a dilatar o tempo e parar ele bem no momento exato da singeleza das coisas. E ficaria ali respirando hortências de dia e alecrim de travesseiro a noite. Por isso te peço pra me deixar ficar aqui no teu peito e pra você não me pedir nada. Não me peça pra ser mulher maravilha, a mais sexy ou a mais inteligente. As vezes só quero ser alguém que precisa se aninhar nesse conforto morno do teus braços e esquecer que existe tanta demanda lá fora. Queria que o nosso amor não fosse sempre de rendas e champagne. As vezes uma calcinha de algodão traz um conforto pra alma que você nem imagina. É... daqui pra frente só vou usar calcinha de algodão e deixar a alma respirar confortável e tranquila no ritmo que nasceu. Por isso te peço, me deixar ficar aqui. Não quero ver que horas são e nem se vai chover ou fazer sol. Me deixa ficar aqui como se fosse sempre manhã de domingo entre oito e dez da manhã quando geralmente não pensamos em mais nada. É isso mesmo. A partir de agora quero me vestir somente de algodão e existir nesse torpor entre oito e dez de uma manhã de domingo. Você me traz o café e também resolve todas as questões do mundo. Outro dia eu te recompenso com uma super libido, lingeries ousadas e as panquecas que você adora. Mas hoje eu só quero repousar nesse vão entre você e o mundo e acreditar que tudo é doce, honesto e seguro como um ponto de croché de uma velha sábia...
~ Beatriz Aquino
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