quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nem sempre sou igual ao que digo e escrevo

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
de que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem, vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem em mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés--
O mesmo sempre, graças ao céu e a terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade da alma . . .
Fernando Pessoa